domingo, 19 de setembro de 2010

Roda de Capoeira com o Monitor Serpente

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Quem És Tu Capoeira - Primeira Parte

Capítulo do livro em processo de edição, “Capoeira uma História Contada e Jogada” do Professor Marcello Bulhões. (solicito, por texto de lei, que qualquer citação deste trabalho deve constar obrigatoriamente o autor).

QUEM ÉS TU CAPOEIRA?


Quem és tu capoeira? Para responder a essa pergunta, é necessário prestar-se as esclarecer a suas variadas interpretações entre os diversos estudiosos acerca dos aspectos conceituais, históricos e técnicos da praxis desta atividade.
Paralela ao seqüestro e escravidão do índio e do negro africano até o resgate da atualidade, a história da capoeira descreve o caminho da sua gênese e evolução, transformando-se de uma arte de guerra, para uma atividade de caráter eminentemente lúdico .



Capítulo do livro em processo de edição, “Capoeira uma História Contada e Jogada” do Professor Marcello Bulhões. (solicito, por texto de lei, que qualquer citação deste trabalho deve constar obrigatoriamente o autor).

QUEM ÉS TU CAPOEIRA?


Quem és tu capoeira? Para responder a essa pergunta, é necessário prestar-se as esclarecer a suas variadas interpretações entre os diversos estudiosos acerca dos aspectos conceituais, históricos e técnicos da praxis desta atividade.
Paralela ao seqüestro e escravidão do índio e do negro africano até o resgate da atualidade, a história da capoeira descreve o caminho da sua gênese e evolução, transformando-se de uma arte de guerra, para uma atividade de caráter eminentemente lúdico .

O histórico da capoeira percorre a saga do índio e do negro africano no Brasil, retratado no ícone "Donde vens". O calvário do negro e escravo brasileiro é abordado em "Grilhões do Brasil". Perseguida, nunca calada e hoje em pleno desenvolvimento, o item "Perseguir cansar e aceitar" aborda a capoeira da Colônia à República. A ritualística, a história técnica/estética da capoeira Angola e Regional também são focalizadas através do ícone "Angola, capoeira mãe" e "Bimba e sua regional", onde se conta o percurso da capoeira na história e suas expressões no cotidiano.

2.1 Donde vens

Quanto à análise etimológica da palavra capoeira, o estudioso do tema depara-se com uma tônica geral: a não consensualidade entre os diversos pesquisadores que se debruçam sobre o termo.
Basicamente ocorrem duas vertentes acerca da origem do seu nome: uma gama de trabalhos enfoca a influência do tronco lingüístico tupi-guarani na construção do vocábulo e, por outro lado, diferentes autores defendem a tese de que sua origem ocorreu de associações com a língua portuguesa.

O termo capoeira, devido aos seus variados significados, quer seja na língua portuguesa, quer advinda do tronco lingüístico tupi-guarani, conduz a uma vasta gama de suposições que impossibilitam a determinação precisa de sua origem, a despeito dos esforços empreendidos por variados estudiosos, ao longo da história brasileira.
Enquanto vocábulo tupi-guarani, a capoeira – como é comumente tratada – significa a denominação que os habitantes do Brasil, à época da chegada dos europeus, davam ao “mato ralo” ou à área recém cortada onde estava nascendo um novo campo. Nesse sentido, observa-se que

“Atualmente, são quase unânimes os tupinólogos em aceitarem o étmo ‘caá’ (mato, floresta virgem), associado à ‘puéra’, pretérito perfeito nominal que quer dizer o que foi, o que não existe mais.” (CAMPOS, 1990, p.19)

Na literatura brasileira o termo é encontrado na primeira edição do romance “Iracema” de José de Alencar, datado de 1865, onde esse autor propõe para o termo capoeira o tupi “caa-apuam-era”, traduzindo-o para ilha de mato já cortado. Em relação ao seu significado e forma de grafia, CAMPOS (1990) nos apresenta algumas colocações historicamente utilizadas, fundamentando-se em diferentes teóricos , cujas proposições – com pequenas variações – corroboram o exposto já citado, vinculando o vocabulário às questões relativas a mato - quer seja novo, ralo, cortado, miúdo - entre outros.

Curiosamente, o termo também é associado a uma ave- Odontophores capoeira Spix - onde NASCENTES apud CAMPOS (1990) afirma que os índios brasileiros criavam esta ave “uma perdiz pequena que andava em bandos e vivia nos chão.” Esse autor declara que os índios a denominavam ora de “capoeira”, ora de “uru” e esta ave travava entre os machos da espécie, batalhas essas, em muito similares aos movimentos da capoeira atual, como luta/jogo.

A capoeira como vocábulo da língua portuguesa, teve seu primeiro registro histórico através de Raphael Bluteu no ano de 1712, com a obra intitulada “Vocabulário Português e Latino”, conceituado dicionário da época. BLUTEU apud CAMPOS (1990), assinala o significado do termo como sendo o designativo de cestos, gaiolas ou locais determinados para se guardar aves.

Conforme ARAÚJO (1995) apenas a partir do ano de 1875, com a obra de Macedo Soares intitulada “Estudos Lexicográficos do Dialeto Brasileiro”, é que se verifica o primeiro registro em língua portuguesa referenciando o termo capoeira, também ao sentido qualificador de mato aludido no contexto lingüístico tupi-guarani.
Abordando uma profunda análise de um terceiro significado para o termo, diz que

“Entretanto, apesar de não se poder comprovar através de registros de época que o vocábulo capoeira pudesse ter sido utilizado com a perspectiva da língua nativa brasileira, curiosamente, se pode detectar através de manuscritos do período colonial, elementos indicativos de um terceiro significado para o referido termo que numa relação direta, poderia permitir inferências sobre a possibilidade do conhecimento popular acerca do significado indígena aludido.” (ARAÚJO, 1995, p. 61)

Desta forma, historicamente, além das acepções tupi-guarani e portuguesa para o termo capoeira, começam a surgir em atas e documentos de autoridades portuguesas no Brasil, referências a uma terceira concepção do termo, associada a sujeitos que viviam à margem da lei e/ou excluídos sociais.
Em detalhada investigação documental/ histórica sobre registros portugueses e brasileiros encontra-se

“O terceiro significado a que aludo compreende a expressão deste vocábulo na perspectiva de considerar capoeira, toda a sorte de sujeitos mal ajustados aos padrões sociais estabelecidos que, escondendo-se nos matos próximos às vilas, acometiam os moradores destas ou mesmo os viajantes, a uma série de constrangimentos que iam desde roubos, agressões, ferimentos e até mesmo mortes, ameaçando assim a tranqüilidade pública dos povoados...” (ARAÚJO, 1995, p. 61)

Com relação à associação do termo capoeira a aspectos de conduta social, marginalidade, malfeitores e bandidos, encontra-se uma citação de documentos datados de 1626, portanto anterior ao registro assinalado na obra de Bluteu em 1712, com o seu dicionário desta forma,

“Com base nas operações filipinas, isto em 1626, se organizava uma política no Rio de Janeiro que, municiada de um instrumento jurídico, pôde a polícia dar vazão aos seus instintos, massacrando a torto e a direito os capoeiras que encontrava, estivessem ou não em distúrbios, a ordem era o massacre.” (REGO, 1964, p. 123)

A referência ao termo capoeira relacionando-se às condutas sociais marginais, também pode ser observada sob a ótica de diferentes perspectivas teóricas. Nestes textos, as descrições relacionadas aos séculos XVII, XVIII e XIX, tratam o termo capoeira similarizando-o às atividades de elementos fugitivos, malfeitores e à contravenções.
AYROSA apud ARAÚJO (1995), ao reportar-se ao termo capoeiragem, vinculando-o às ações específicas sempre praticadas por sujeitos, mais ou menos capoeiras, relaciona o termo ao vocábulo tupi, significando “matuto” ou sujeito que vive na capoeira.
OLIVEIRA apud ARAÚJO (1995, p. 173) traz referências quanto à terminologia, relacionando-a a local de guarda ou prisão de malfeitores. Nesse sentido, afirma que

“Pela primeira vez a associação da palavra capoeiras enquanto gaiola grande, significando prisão para guardar malfeitores. Esta vinculação vem demonstrar que já há muito os portugueses estreitaram relações entre os termos assinalados e, onde reconheciam que as referidas gaiolas, comportavam ladrões de profissão, assassinos e outros malfeitores semelhantes [...] comportamentos que mais tarde foram utilizados para identificar certos sujeitos ou grupos, que atentavam contra a ordem pública.”

BRUNO apud ARAÚJO (1995, p. 138), relaciona o termo capoeira aos locais de fuga e ocultamento de sujeitos perseguidos. Assim, diz que,

“As capoeiras e os capinzais que haviam em torno do tanque reúno no bexiga, como em outros pontos da baixada em que corriam o anhangabaú e o riacho saracura, serviam sempre de esconderijos onde se aquilombavam negros cativos e desordeiros...”

BRETAS apud ARAÚJO (1995, p. 191), investiga a relação discriminatória da associação do vocábulo capoeira à sujeitos excluídos e marginalizados socialmente. Afirma que

“A imagem dos capoeiras é a reprodução das muitas faces da pobreza. Desfilam cegos, pernetas, escrufulosos, todos reunidos sob o manto igualitário e discriminador de capoeiras.”

SODRÉ apud ARAÚJO (1995, p. 205), corrobora a idéia do relacionamento entre o local de fuga e o elemento negro fugitivo. Desta forma

“Dizia-se do escravo fugitivo: ‘caiu na capoeira’. E subentendia-se: era rápido, faquista, mandingueiro, rebelde, resistente enfim.”

Com base nesses estudos que, mesmo conflitantes em relação à origem e ao conceito utilizado na época, a terminologia supracitada, assume, a partir desta pequena investigação teórica, a conceituação de luta, de destreza e agilidade corporal, oriunda, sem dúvidas, de pessoas que, vivendo à margem da sociedade, produziram e produzem uma “cultura popular”, sendo então a capoeira uma manifestação popular, classificada como luta e oriunda de um movimento histórico de libertação: O do negro escravo.

domingo, 20 de junho de 2010

Apresentação no X Festival de Danças Populares da UFPB

Apresentação de roda de capoeira no X Festival de Danças Populares da UFPB